O Árbitro de Futebol – uma Abordagem Histórica - Parte 5



No Brasil, nunca houve árbitros excelentes em quantidades, afirma Almeida (19–). Entre os maiores, segundo Almeida (19–), Manzolello (19–) e Serran (19–), destacam-se Mário Viana, que era policial, que não gostava de levar desaforo para casa, brigava com jogadores e torcedores, e chegou a ser árbitro da Fifa. Outro árbitro que fez história no futebol brasileiro foi Armando Nunes Castanheira Marques. Ruim de bola, não resistiu à ideia de ter de viver longe do futebol. De acordo com Almeida (19–), Armando Marques, como ficou sendo conhecido, é o mais polêmico, discutido, ironizado e glorificado árbitro do futebol brasileiro. Era conhecido nacional e internacionalmente, pelos seus trejeitos, sua figura esguia e passos ligeiros de bailarino.
Armando Marques foi presidente da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol, sendo que em 1999 foi suspenso de seu cargo por ter ofendido e comentado a atuação de um árbitro durante o jogo entre Vasco da Gama e Paraná Clube, jogo este do campeonato brasileiro, interrompido porque um dirigente invadiu o campo (Santos, 1999). Almeida (19–.) afirma que existem árbitros que ficam famosos por serem desonestos, como foi o caso de João Etzet, do Rio de Janeiro, que ficou tristemente famoso por sua conhecida vulnerabilidade ao suborno.
A cada dia que passa, o futebol vai se tornando mais violento. Segundo Santos (1999) o campeonato brasileiro do ano de 1999 bateu todos os recordes de violência da última década. Em uma só partida foram cometidas 105 infrações. Não é difícil encontrar diariamente, nos meios de comunicação, relatos de violência envolvendo atletas, árbitros, dirigentes e agora principalmente torcedores.
No entanto, a violência no futebol, as várias denúncias de corrupção de atletas, dirigentes e árbitro, é culpa daqueles que comandam esse esporte. De acordo com Netto (19–), os cartolas, como são conhecidos os dirigentes de futebol, no início eram filhos de papais ricos, muitos dos quais eram vadios e inúteis para tudo, utilizavam o futebol como um refúgio e com perspectiva de sucesso. O que não conseguiriam, normalmente pelo trabalho duro e difícil, o futebol não lhes negaria. Ainda segundo Netto (19–), o cartola mais honesto e de intenções mais puras, hoje, no mínimo dedica-se ao tráfego de influências. Usa o clube, o jogador, a torcida sem parcimônias. À custa de todos, ganha evidência, elege-se, faz-se notável.
Manzolello (19–) comenta que o cartola que não vive o futebol, não deveria viver na atual estrutura do futebol. O dirigente faz o que faz com os clubes e federações e não se sente responsável. Se entra em campo para desacatar o árbitro e, em conseqüência, é suspenso, quando o é, para que serve a punição? Os cartolas exploram seus clubes colocando-os em um buraco sem fundo e no máximo que podem fazer com eles é não os reeleger.
Segundo ainda Manzolello (19–), o osso mais cobiçado pelos cartolas são as escalações dos árbitros. É o cartola que indica ou veta um árbitro para seu jogo. Não é raro ver, na imprensa, denúncias envolvendo cartolas, árbitros e comissões encarregadas de escalarem árbitros para os mais diversos campeonatos. A escalação de um árbitro é tão ou mais importante para um cartola que a própria escalação de sua equipe, porque o cartola sabe que eles, em algumas situações, podem influir na arbitragem.
Hoje, apitar uma partida de futebol requer do árbitro mais subsídios que qualquer treinamento pode dar. O árbitro é visto por todos como um inimigo, qualquer atitude dele é suspeita, se cumprimentar alguém mais calorosamente antes de um jogo, há quem pense que ele já está sendo comprado.
A pressão psicológica é tão grande, que a seguir se transcreve o que um árbitro escreveu na súmula após um jogo turbulento no Estado de São Paulo, segundo Almeida (19–) “pelo exposto, vê-se que, mesmo com o cavalheirismo e abnegação do presidente do Internacional, Sr. Benedito, se não fosse o Todo Poderoso descer lá das alturas e dar-nos uma ajudazinha, e o nosso Anjo da Guarda haver trabalhado sem descanso durante os 90 minutos de jogo, não sei se hoje os meus filhos não estariam lamentando o desaparecimento prematuro do pai deles. Sim, porquanto ao entrar no estádio, fui logo sendo ameaçado de…”.
Espera-se que este trabalho possa ter contribuído para mudar o preconceito que algumas pessoas têm do árbitro de futebol. O árbitro de futebol foi criado para ajudar esse esporte, para cumprir as regras e fazer com que sejam cumpridas. Suas decisões não podem ser contestadas, são sem apelo. Esse fato, de acordo com Ekblom (1994), protege o árbitro e sustenta sua autoridade dentro do campo.
Mas, com o passar dos tempos, parece que algumas pessoas acreditam que existem objetivos mais importantes em uma partida do que o cumprimento das suas regras, que estas são apenas um detalhe, e se for necessário descumpri-las para se obter uma vitória, isso parece normal no mundo do futebol.
Entretanto, as pessoas que possuem um senso de honestidade e espírito esportivo, sabem que não é com desonestidade que o futebol sairá da situação que se encontra.
Os dirigentes, técnicos, treinadores e professores deveriam utilizar o futebol como meio para a construção do caráter das crianças. Contudo, os exemplos que se observam hoje no futebol mundial, principalmente pela mídia, seja dentro de campo ou fora dele, se forem utilizados no intuito de forjar o caráter de uma criança, conduzi-la-ão mais para ser um delinquente do que um cidadão produtivo.
São tantos os fatores que podem interferir em uma arbitragem que fica difícil discutir todos aqui, mas é importante que as pessoas apaixonadas por este esporte, verifiquem como é construído o clima de uma partida pela imprensa, pelas declarações dos dirigentes e jogadores. Eles, com antecedência, querem imputar a responsabilidade de tudo para o árbitro. Logo, ele será o culpado pela vitória ou derrota de sua equipe, e quando este sai do vestiário e adentra o campo, já o julgaram, e acreditam que é a pessoa encarregada de “estragar” o espetáculo, que é uma partida de futebol.



 

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