Esporte e o FairPlay - Parte 1



Os conceitos de “Espírito Esportivo”, “Fair Play” e “Esportista” (Sportsmanship) ainda não estão suficientemente claros na literatura especializada que trata das questões relacionadas com a ética e moralidade no esporte.

Abe (1988) realizou um importante estudo cronológico sobre a moderna utilização do termo “Esportista” (Sportmanship), em dicionários ingleses, americanos e japoneses. A primeira utilização do termo “Esportista”, segundo o "The Oxford English Dicionary on Historical Principles", foi encontrada na obra “The Beaux Stratagem” de 1706-07, no qual o termo “Esportista” é encontrado como sendo o homem do prazer. Nesta obra há o seguinte diálogo:

“Um esportista, eu suponho? Sim senhor, ele é um homem do prazer, ele toma whisky e fuma seu cachimbo as oito e quarenta horas muitas vezes” (Abe, 1988, p. 4).

A princípio o termo “Esportista”, em inglês “Sportsman e Sportsmanship”, foi utilizado para relatar habilidades ou comportamentos relacionados com o bem-estar das pessoas, e, assim, a sua aplicação não estava relacionada exclusivamente com os comportamentos éticos no esporte. O termo “Esportista” tem várias interpretações, algumas contraditórias, tais como: caçar, pescar; alguém que aposta em esportes; alguém que é bom (fair), generoso e não faz nada incorreto, procurando participar como um “bom vencedor” ou como um “bom perdedor”. É importante destacar que a utilização do termo “Esportista” (Sportsmanship) vai-se modificando à medida que as atividades esportivas se modificam, do esporte como caça e pesca na Inglaterra do século 16 e 17, às atividades atléticas implantadas por Arnold no século XIX na Escola Rugby. O esporte que a princípio era sinônimo de prazer, passatempo, entretenimento, recreação e diversão, passa a ser compreendido como uma atividade composta de uma série de desafios atléticos, presos a um tempo determinado em forma de espetáculo ou evento social (Abe, 1988).

Em relação ao termo “Fair Play” (Espírito Esportivo) compreendido na língua portuguesa e francesa como “Espírito Esportivo”, segundo Abe (1988) a primeira utilização apontada pelo "The Oxford English Dicionary on Historical Principles" foi na obra de Shakespeare “A vida e a obra do rei John”, de 1595, em uma cena em que um homem participa de uma audiência com o rei. Nesta situação o termo Fair Play” (Espírito Esportivo) foi utilizado como sinônimo de senso ou espírito de justiça social, equidade e imparcialidade, nas diversas situações de vida vividas pelas pessoas. Nos demais dicionários pesquisados por Abe (1988) apareceram sempre como definição do termo “Fair Play” (Espírito Esportivo) as palavras justiça, justiça social, conduta honesta e conduta imparcial.

A maioria dos pesquisadores que estudam o fenômeno do “Espírito Esportivo” relata as dificuldades existentes em definir com clareza o significado do termo (Kroll, 1976; Deshaies, Vallerand e Cuerrier, 1984; Gonçalves 1990). Segundo, ainda, Deshaies, Vallerand e Cuerrier (1984) a ausência de uma definição adequada do que seja “Espírito Esportivo” tem criado uma situação difícil para os estudiosos, pois o direcionamento dos estudos, em sua maioria, para avaliar o “Espírito Esportivo” entre atletas, retardou a elaboração de uma definição mais precisa do conceito de “Espírito Esportivo”, bem como retardou a possibilidade dos pesquisadores estabelecerem relações entre o “Espírito Esportivo” e outros parâmetros do contexto esportivo.

Para Kroll (1976) o conceito de “Espírito Esportivo” é descrito por pequenos relatos imprecisos de incidentes ocorridos no esporte ou por frases com grande destaque. Este autor relata, ainda, que mesmo que todos nós conhecêssemos o conceito de “Espírito Esportivo”, seria difícil obter uma definição que fosse aceita por todos, ou seja, que fosse universal, uma vez que este conceito se assemelha às tentativas de definição dos conceitos de amor, lealdade, sinceridade e obscenidade. Assim, com certeza, todos nós temos a compreensão do que seja “Espírito Esportivo”, porém temos muitas dificuldades em definir com clareza este termo. Martens (1978) afirma que o “Espírito Esportivo” é algo de que nós acreditamos conhecer o sentido, mas temos grandes dificuldades em conceituar com clareza.

O Espírito Esportivo tem sido definido na literatura especializada como:


“Uma atitude geral em face de certos comportamentos” (Haskins, 1960);


“Como o respeito a normas prescritivas e proscritivas como resultado de um código de ética” (Kroll, 1976);

“Como um comportamento moral no meio esportivo” (Martens, 1978).

Desta maneira, pode-se afirmar de forma resumida que o Espírito Esportivo é um conjunto de normas prescritas, isto é, constitutivas do esporte, e normas não prescritas nos códigos esportivos que envolvem comportamentos de acordo com um código de ética humano, que prescreve respeito, tolerância, igualdade, etc.


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