Ética e Moral no Esporte



As questões relacionadas com a ética e a moral não são uma preocupação recente no esporte. Passaram a ser foco de maior interesse a partir das últimas décadas, em razão do aumento da violência e mercantilização do esporte, assim como os frequentes comportamentos de desrespeito às regras manifestadas nos espetáculos esportivos (Regnier, 1990).



Bento (1990) e Meinberg (1990) afirmam não ser viável pensar somente em uma ética do esporte, pois uma ética esportiva, desvinculada de uma ética da sociedade, é impossível, uma vez que o esporte não se manifesta em um vácuo social, mas acontece, sim, num contexto sociocultural, vinculado a uma ética da sociedade moderna. Para estes pesquisadores, é necessário pensar em uma macroética, a qual será formada por diversas microéticas, representantes, que são, das variadas manifestações esportivas. À medida que se multiplicam as formas de manifestação do esporte, na nossa sociedade, também aumentam as preocupações com a ética esportiva. Apesar do avanço dos métodos de treinamento e da ciência no esporte, ainda não se tem claro, por exemplo, quais os parâmetros para uma ética da prática do esporte com crianças, como também os parâmetros para uma ética do treinador. Bento (1990) destaca que:

"...o desporto não pode esquecer o” humano “e deve procurá-lo não em apelos difusos, abstratos e pouco vinculativos, mas sim na forma concreta como lida com cada praticante. E não deve ignorar que os limites” humanos “são mais estreitos do que os manipuláveis limites biológicos e técnicos" (p.39).

Nestes últimos anos aconteceram diversos fatos contrários aos objetivos humanos do esporte, os quais passaram a ser objeto de preocupação por parte de governos em diversos países, federações internacionais, nacionais e regionais de organização do esporte, Comitê Olímpico Internacional, entre outros, a respeito de questões relacionadas com a Moral e Ética no esporte, como: violência e vandalismo de torcidas em jogos de futebol na Europa, o fenômeno dos hooligans na Inglaterra (Dunning, Maguire, Murphy e Williams, 1984), como os distúrbios ocorridos no último Mundial de Futebol na França; distúrbios e violência no futebol argentino que fez com que campeonatos fossem suspensos por autoridades do judiciário; conflitos provocados pelos hooligans da Espanha - os ultras - e em Portugal, pelas chamadas claques; no Brasil, atos de violência entre torcedores com as denominadas “galeras”, uma forma de hooliganismo brasileiro; o doping de esportistas, nadadoras da Alemanha Oriental, Ben Johnson nos 100 metros do atletismo, competição de ciclismo na Europa em 1998; jogadores de basquetebol nos Estados Unidos que morreram por doses altas de medicação, o astro do futebol mundial Maradona; alterações nas características femininas através da ingestão de hormônios por mulheres esportistas, no caso a morte prematura de uma grande recordista mundial de atletismo dos EUA, Florence; a violência no hóquei sobre o gelo no Canadá; a violência no basquetebol da NBA; a corrupção de árbitros e dirigentes no futebol; o tráfico de atletas através de contratos assinados em branco por jovens atletas; drogas colocadas na alimentação dos atletas por treinadores e dirigentes sem escrúpulos; o mau comportamento de treinadores e dirigentes durante as competições; as atitudes violentas no campo de jogo; o caso da "sabotagem olímpica" com a agressão sofrida pela patinadora Tonya Harding por sua rival Nancy Kerrigan; mais recentemente, as manipulações de resultados pela equipe da Ferrari, nas competições de Fórmula 1; e, finalmente, a crescente manipulação do esporte como atividade comercial, tratado apenas como objeto de consumo e lucro, que tem feito com que atletas e treinadores procurem um nível de rendimento cada vez maior por meios ilícitos (McIntosh, 1979; Bento, 1990; Meimberg, 1990; Elias e Dunning, 1992; Smolowe, 1994).

Bento (1990) afirma que em relação à Ética no esporte é necessário o empenho de todas as pessoas envolvidas com este fenômeno, através de ações como: a defesa de uma prática esportiva pautada por valores morais, éticos e deontológicos; que sejam adotados dentro do ponto de vista de uma ética da responsabilidade, situando-nos no interior do esporte para criticá-lo; e, finalmente, criticar o universo do esporte moderno em nome de promessas que ele faz e não cumpre. Ainda segundo este autor, a maior parte dos ensaios elaborados até ao momento sobre a ética do esporte são deficitários, pois não apresentam uma fundamentação convincente e abrangente de uma ética para todos os implicados no esporte e privilegiam, quase que exclusivamente, um entendimento do desporto circunscrito ao palco da competição e do rendimento. Destacando, ainda, que existem outros conflitos Éticos e Morais no esporte que merecem atenção, como os relacionados com: a vinculação treinadoratleta; o apoio material recebido pelos atletas, bolsas-liberdade; a manipulação dos esportistas pelos investigadores das ciências; o uso do corpo no esporte; e, finalmente, com a dúvida - quem são hoje os agentes diretos e indiretos do esporte?

Arnold (1994) destaca que o esporte contemporâneo pode ser analisado no seu relacionamento com a moral, sob três pontos de vista: o positivo, o neutro e o negativo. Sob o ponto de vista positivo existe a crença clara de que há uma forte relação entre a prática do esporte e o desenvolvimento moral de seus praticantes. Este ponto de vista se apóia em duas teorias defendidas pelas escolas públicas inglesas do século XIX. A primeira teoria afirmava que a prática de esportes e jogos levava as pessoas a terem comportamentos cooperativos com os outros e a segunda teoria afirmava que os comportamentos positivos aprendidos no esporte eram transferidos para outras esferas da vida, quando necessários. Este autor destaca, ainda, que apesar desta visão ser antiquada e ultrapassada, sua defesa ainda persiste no presente, principalmente através dos representantes do chamado Movimento Olímpico. O segundo ponto de vista, denominado neutro, afirma que as atividades do esporte e jogos se fazem fora do mundo sério dos negócios e do trabalho, e, assim, os aspectos morais desenvolvidos nestas atividades ficam circunscritos ao mundo “não sério” do jogo e do esporte. Finalmente, um terceiro ponto de vista, chamado negativo, que toma como referência o esporte de alto rendimento, afirma que a prática do esporte é prejudicial, pois ensina as pessoas a trapacear e a fazer transgressões às regras, contribuindo para uma formação inadequada dos jovens, pois tem como referência básica comportamentos denominados antiéticos. Este autor destaca que os pontos de vista a respeito das relações entre esporte e moralidade podem variar segundo o meio sociocultural onde as pessoas vivem.

Desta maneira. a sobrevivência do esporte está baseada em três dimensões de comportamentos associados ao Espírito Esportivo: a união social, o esporte compreendido como uma relação de amizade e companheirismo; a magnanimidade, como uma forma de comportamento esportivo baseado na generosidade; e, no altruísmo, como uma forma de buscar o bem-estar de todos na prática esportiva. Finalmente, este autor destaca o importante papel do professor como mediador e exemplo de comportamento moral no campo educacional esportivo, despertando nos jovens a importância da aquisição de valores positivos na prática esportiva (Arnold, 1994).
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