Vamos falar em Esportes?



O esporte não é uma atividade nova, na história das civilizações antigas (chineses, egípcios, maias, incas, etc.) há registros de jogos praticados por estes povos com caráter esportivo (Tubino, 1987). Porém, foi na Grécia antiga que os esportes tiveram papel de destaque, em razão da importância dada a esta atividade pelo processo educacional grego e pela importância atribuída aos mesmos nas celebrações religiosas e festas. 

Segundo Tubino (1987): "o momento culminante dos esportes na Antiguidade grega é atingido nas celebrações dos Jogos Olímpicos, disputados em Olímpia por 12 séculos, de 884 a.C. a 394 d.C. ..." (p.14).

O esporte na sua versão moderna foi reorganizado no século passado na Inglaterra, por Thomas Arnold, com a finalidade de oferecer uma opção de atividade física aos alunos da Escola Rúgbi, a qual era destinada à educação de membros da aristocracia inglesa. O esporte era então justificado pelos seus defensores como uma atividade benéfica do ponto de vista moral, pois a sua prática estava fundamentada em valores ético-morais positivos e os comportamentos morais adquiridos durante a prática esportiva seriam estendidos a todas as outras formas de comportamento das pessoas durante sua vida futura.

Esta forma de avaliar os efeitos da prática esportiva foi denominada de “Cristianismo Muscular” (McIntosh, 1979).

Em muitos países europeus, fora à Inglaterra, o esporte sofreu grandes resistências em ser aceito como prática educacional.

O esporte levado para a América do Norte foi rapidamente incorporado pela sociedade, em razão da aceitação e forte apoio recebido para esta prática por parte do clero e dos dirigentes do sistema educacional. A partir de 1850 são formadas diversas ligas esportivas, principalmente no beisebol. É importante destacar o papel desempenhado pela YMCA - Young Men’s Christian Association (no Brasil conhecida como ACM, Associação Cristã de Moços) na divulgação, implantação e invenção de novas práticas esportivas, tanto nos Estados Unidos da América do Norte como em muitos outros países do mundo (McIntosh, 1979).

O fato marcante na reorganização do esporte moderno foi sem dúvida à restauração dos Jogos Olímpicos Modernos, propostos e realizados pelo francês Pierre de Coubertin, em 1896, que ficou entusiasmado, após ter visitado a Inglaterra, com o sucesso da implantação do esporte no sistema educacional inglês. Com a reorganização dos Jogos Olímpicos Modernos, o esporte teve um crescimento sem precedentes, marcadamente no esporte de alto rendimento, influenciado pelo modelo dos ideais originários dos primitivos Jogos Olímpicos gregos.

A partir de 1964, o conceito de esporte é ampliado e este passa a ser compreendido a partir de uma perspectiva ampla e plural, que permite estender sua prática a uma diversidade de pessoas. O conceito plural de esporte significou compreendê-lo não somente na perspectiva do alto rendimento, mas também, como esporte de lazer e tempo livre, esporte escolar e esporte para pessoas portadoras de deficiência (Tubino, 1987; Bento, 1990; Meinberg, 1990).

Do início dos anos 80 até o presente, o esporte tornou-se uma atividade importante na sociedade moderna, pois as pessoas passaram a ter mais tempo livre, dado o desenvolvimento tecnológico e a racionalização das atividades do trabalho, transportes e deveres domésticos. A partir do momento em que o homem passou a ter mais tempo livre, vários agentes da cultura moderna - cinema, televisão, turismo, revistas e espetáculos - passaram a disputar a preferência deste tempo livre do homem, inclusive o esporte. Na verdade observa-se a passagem da sociedade do trabalho, para a sociedade do trabalho e do tempo livre (Bento, 1990). Assim, o esporte passa a ser uma opção importante dado o seu caráter recuperador pela quebra da rotina do trabalho e da tensão do mundo moderno; como agente que poderá contribuir na manutenção da saúde; como um dos meios que tem possibilidades de contribuir para a autonomia e lazer dos portadores de deficiências e grupos especiais, como idosos, safenados, cardíacos, etc.; finalmente, como uma forma de entretenimento importante na participação do esporte para o tempo livre e o esporte espetáculo.

O esporte, destacadamente, nas suas formas de prática ligadas ao patrocínio, à mídia e ao profissionalismo, fez com que fossem estabelecidas novas relações entre atletas, treinadores, médicos, patrocinadores, dirigentes, árbitros, e público. Desta maneira, a prática esportiva, até então compreendida nos ideais olímpicos de um amadorismo puro, começa a dar lugar a manifestações esportivas cuja organização se insere na perspectiva do mundo do trabalho e, consequentemente, na economia.



Assim, uma moral no esporte, compreendida somente como um fenômeno sagrado, parece não satisfazer as necessidades de uma prática esportiva plural que se instala e se materializa nos diversos contextos da sociedade atual. Além da perspectiva do alto rendimento, o esporte passa a ser compreendido na perspectiva do lazer e saúde mental, na perspectiva da saúde física no esporte adaptado e na perspectiva da formação educacional, no esporte escolar. Estas novas perspectivas de expressão da manifestação esportiva revelam, também, novos valores, novas relações e uma nova moral no campo esportivo. Assim, como no mundo cotidiano, esta mudança na prática esportiva estabelece polêmicas, tais como na discussão sobre amadorismo e profissionalismo no esporte; a utilização de drogas proibidas, com o objetivo de melhorar o desempenho esportivo; as relações pessoais e profissionais entre atletas, técnicos, dirigentes e atletas-atletas; os limites do envolvimento dos patrocinadores nos eventos esportivos; a publicidade nas vestimentas de atletas e nos locais de competição esportiva; os espaços urbanos destinados à prática esportiva de lazer (Bento, 1990; Meinberg, 1990).

Dunning (1985) destaca, a partir da realidade da Europa, que o esporte nas sociedades pré-industriais era diferente, dadas as características das realidades locais. Vivia-se em pequenas localidades, não havia uma unificação nacional na maioria das nações, os meios de transportes e comunicação eram deficientes, assim, as regras das atividades recreativas e esportivas do tempo livre eram particularmente locais, variando segundo a região e contexto sociocultural. Porém, na sociedade industrial, os problemas estruturais básicos estão mais bem organizados, os estados estão organizados nacionalmente, os meios de comunicação funcionam melhor e o desporto passa a ter regras comuns em uma região bastante grande, regras estas baseadas no “cosmopolitismo”, isto é, as regras têm origem e são determinadas pelos grandes centros e migram para as pequenas localidades (Dunning, 1985).

O esporte moderno, desta maneira, passa a ter as seguintes características comuns: estratificação em esportes específicos; estratificação por gênero e estratificação por nível de habilidade. Consequentemente os praticantes de esportes são praticamente “forçados” a representar unidades sociais mais amplas como cidades, regiões e países, em troca de materiais, ajuda para manutenção e pagamento de viagens. Do outro lado, há espectadores, caracterizados como “consumidores” que desejam assistir a um espetáculo excitante, para o qual pagam uma referida taxa. Possivelmente, muitos atletas participam de competições sem prazer, simplesmente por uma obrigação, quando o prazer deveria ser o objetivo central do esporte (Dunning, 1985).

Dunning (1985) destaca, ainda, que estas pressões que os praticantes de esportes sofrem revelam o perfil da sociedade contemporânea, caracterizada por pressões e formas de controles multipolares, onde:“...os alicerces de identidade e de estatuto se relacionam com formas tradicionais de classe, autoridade, sexo e idade, corroídas pela democratização funcional, ou seja, pelo processo de igualização que, de acordo com Elias, é inerente à divisão social do trabalho” (p. 322).

Contrário ao que se pensa no senso comum, o esporte contemporâneo tem sido objeto de muitas críticas por parte de estudiosos deste fenômeno. Infelizmente, estas críticas dificilmente chegam à população em geral, dado os grandes interesses financeiros e políticos dos grupos organizadores dos eventos esportivos e dos órgãos da comunicação social.

Dunning (1985) faz as seguintes críticas ao esporte contemporâneo: o esporte, para muitos grupos, tornou-se uma religião na sociedade atual, vinda certamente a substituir a lacuna deixada na vida cotidiana pelo declínio da religião, a ponto de haver uma tradição no clube Liverpool da Inglaterra, em jogar as cinzas dos torcedores falecidos sobre o campo de jogo e a pressão social exercida sobre os atletas, em todos os países do mundo, com o objetivo de fazer com que estes sempre obtenham êxito nos eventos esportivos, tem colaborado para a destruição do elemento jogo no esporte.

Lumer (1995) revela que na comparação do esporte de lazer com o esporte de alto rendimento, as altas recompensas recebidas por estes últimos e a grande necessidade de reconhecimento pessoal têm estabelecido um claro desequilíbrio nas posturas destes praticantes esportivos, quanto a comportamentos relacionados com o Fair Play - Espírito Esportivo. Este autor destaca, ainda, que frente à necessidade de reconhecimento de riqueza, atletas, técnicos e dirigentes fazem altas exigências financeiras e tecnológicas, deturpando, assim, os objetivos básicos da prática esportiva.


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